segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Oficina dos textos de filosofia para a Segunda Etapa do Vestibular UFMG 2013


Colegas de Coletivo e estudantes bom-despachenses em geral:

Em virtude da segunda etapa do VESTIBULAR UFMG 2013, os cursos de ciências sociais, filosofia, artes visuais, cinema de animação e artes digitais, comunicação social, direito e ciências do estado, conservação e restauração, design de moda, submeterão seus candidatos à PROVA ESPECÍFICA DE FILOSOFIA. Com o intuito de promover uma oportunidade de esclarecimento de dúvidas sobre os textos solicitados na prova, ofereceremos uma OFICINA DOS TEXTOS DE FILOSOFIA DA SEGUNDA ETAPA UFMG 2013.

Trata-se de uma iniciativa localizada, mas que tem em vista melhor preparar os candidatos a estes cursos e a outros mais, através da leitura, comentário e contextualização das questões principais dos textos, bem como ambienta-los aos critérios e habilidades requeridos dos vestibulandos.
Serão três dias, um para cada texto. Primeiro dia 9/1/13; segundo dia 10/01/13 e o último será 11/01/13.

Os textos são:
- Platão. Eutidemo. Tradução de Maura Iglésias. São Paulo: Loyola, 2011.
- HUME, David. “Do Padrão do Gosto” In: Ensaios morais, políticos e Literários (Coleção Os Pensadores). Tradução de João Paulo Gomes Monteiro e Armando Mora D’Oliveira. São Paulo: Abril Cultural, 1992, p. 261-271 (diversas edições).
- RUSSELL, Bertrand. “Verdade e falsidade”. In: Os Problemas da Filosofia (Capítulo 12). Tradução de Jaimir Conte. Florianópolis, 2005.

Todos os textos estão disponíveis aqui no blog.
Sugerimos fortemente que sejam lidos as textos das edições indicadas pelo edital do vestibular. Para baixa-los é preciso se cadastrar no site do 4shared.com e possuir um leitor de pdf. Entretanto, os textos serão disponibilizados em Xerox (local ainda a ser confirmado). É possível, ainda, que seja confeccionada uma apostila, com estes textos e outros, de comentadores e outras bibliografias.

Por fim, gostaríamos de solicitar três coisas:
              1)      que confirmem a presença comigo ou com a Priscila Costa com antecedência;
              2)      manifestem se as datas escolhidas estão boas;
           3)      leiam tudo o que for possível para aproveitar todo o tempo para tirar dúvidas sobre os textos e    outras coisas mais, ligadas à prova de filosofia.

Divilguem bastante, pessoal!

Obrigado e, desde já, bons estudos!


Abraços

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Nota sobre o novo calendário da UFOP - reinício previsto

Nota do CEPE sobre o calendário acadêmico da UFOPImprimirE-mail
14-Set-2012
O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFOP reuniu-se na quinta-feira, 13 de setembro, para avaliar a greve e a retomada do calendário acadêmico da Universidade. Na ocasião, a Associação dos Docentes (ADUFOP) manifestou-se declarando que a categoria definiu pelo encerramento da greve, com a indicação do retorno das atividades já para a próxima semana.

A representação dos alunos da UFOP, presente na reunião, pontuou que os discentes continuam em greve. Durante a reunião, foi feito um apelo, por parte do Presidente do CEPE, aos representantes discentes, para que buscassem viabilizar a decisão de retorno ou não às aulas até o dia 19 de setembro. Caso isso aconteça, no dia 20 de setembro o CEPE poderá reunir-se para deliberar sobre o assunto.

Caso seja deliberado na assembleia dos alunos o retorno às atividades, a data provável de reinício das aulas, ainda não confirmada, é 24 de setembro.
Atualizado em ( 14-Set-2012 )

http://www.ufop.br/index.php?option=com_content&task=view&id=11493&Itemid=196

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Reinicio das aulas

Olá a tod@s!

Conforme já sabido, foi declarado o fim da greve na última quarta-feira, 12/09/12. 
Ontem, 13 de setembro, a comissão CEPE se reuniu para discutir os calendários de reposição. Uma reunião definitiva está prevista para a próxima semana, quando será divulgado, além do calendário, o início das aulas que complementarão as atividades de 2012/1 e as demais atividades e prazos. 

Com efeito, o reinício das aulas NÃO será na próxima segunda-feira, dia 17 de setembro. Devemos aguardar até que seja estabelecida a volta. Mas, obviamente, fiquemos ATENTOS! Podemos nos reencontrar logo no dia 20..., "ou não" (como diz o Caetano).

Peço a tod@s que se organizem para que, quando voltarmos, esteja tudo correndo bem e já atualizados para retomarmos e finalizarmos nossos últimos 7 encontros que ficaram faltando. Como se trata de apresentações e discussões sobre os capítulos do livro indicado, será necessário uma aula de recapitulação e para repassar algumas informações, tirar dúvidas para, só assim, podermos seguir com os seminários.

Portanto, tod@s atent@s! E avisem seus pares!!! Estamos de volta à batalha!

Bom final de semana e

Carpem diem


mais informações sobre o fim da greve e calendário de reposição: 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Decisão provisória sobre a greve UFOP

Olá a todos(as)

Venho comunicar-lhes que, devido à falta de decisão assertividade por parte dos colegas docentes do DECIV sobre a sua adesão ou não à greve, amanhã, 17 de maio, não haverá aula da disciplina FIL200. Tendo em vista que o primeiro grupo não havia preparado suficientemente a apresentação de seu texto (como me foi dito); que ainda não há uma posição oficial dentro do corpo docente do departamento e que amanhã será o primeiro dia de greve após sua resolução ("a greve ainda está se experimentando"), resolvemos então aguardar um posicionamento claro e definitivo. 
Na próxima semana, conforme os demais colegas decidam-se realmente por não aderir à greve, então (que fiquem sabendo) teremos aula e apresentação do grupo 1 normalmente. Somente se houver adesão é que não teremos aula.
Peço ainda que os alunos fiquem atentos às movimentações e decisões dos demais professores do departamento, procurando saber deles também se aderiram ou não à greve.
Não estou aderindo oficialmente à greve - que fique claro. Estou deixando que os fatos digam, já que ninguém o faz com clareza.
Peço desculpas (ao que me cabe). Mas a melhor opção que achamos foi essa.
Qualquer eventual dúvida ou outro, enviem-me um email.

Até breve.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Metodologias de leitura - guia rápido


Metodologias de leitura - guia rápido
A Metodologia de Leitura pode ser trabalhada em suas variadas formas. Aqui nos deteremos inicialmente ao fichamento. Em seguida será apresentado – também de forma sucinta – aquela forma de metodologia à qual poderíamos chamar de resumo ou leitura analítica. Como tal, esta segunda forma não é feita em fichas. Vejamos cada uma em separado.









link para download da primeira parte do texto, relativo ao Fichamento:


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Quadro comparativo entre argumentos dos tipos Dedutivo e Indutivo

Link para download:

http://www.4shared.com/office/O7H5AWaY/QUADRO_COMPARATIVO_ENTRE_ARGUM.html?


QUADRO COMPARATIVO ENTRE ARGUMENTOS DO TIPO DEDUTIVO E INDUTIVO
DEDUÇÃO
INDUÇÃO

Argumentos válidos em função da forma
Argumentos fortes em função de probabilidade (a força não depende totalmente da forma)
Critério de Validade Dedutiva
Critério de Força Indutiva
Se válido, é impossível premissas verdadeiras
e conclusão falsa
A verdade da conclusão é +/- provável depende da informação dada nas premissas
Premissas não podem ser invertidas com a conclusão sem alterar a validade do arg.
Premissas podem ser invertidas com a conclusão sem que se altere a validade
Premissas são sempre categóricas
As premissas não são categóricas  (apresentam % ou são enumerações – de indivíduos, fatos ou propriedades)
Se é válido, a conclusão se segue 100% (sempre e necessariamente)
A validade, em níveis, nunca se dará com 100% de certeza – provável
Validade = conclusão é consequência lógica das premissas
(como consequência lógica não admite graus, ou um argumento é dedutivamente válido ou não o é)
A força de um argumento indutivo admite graus, pois as premissas podem oferecer mais ou menos suporte para a conclusão
Conclusão é desdobramento dos conceitos dados nas premissas (não ampliativos)
Conclusão sempre avançará mais informação que as premissas (ampliativos)
É dedutivo se, e somente se,
ele é válido
É indutivo somente se sobre ele
incide probabilidade “suficiente”
Comporta somente um tipo de
construção de argumentação
Comporta outros tipos: por analogia,
por autoridade, usando estatísticas, etc.
São monotônicos
(permanecem válidos caso novas premissas sejam acrescentadas)
São abertos, ou não-monotônicos
(a conclusão obtida pode ser alterada
em virtude de novos dados ou fortalecida/enfraquecida se inseridas novas premissas)

Parte do geral para o particular*
Parte do particular ou para
uma conclusão particular ou
uma conclusão mais geral*

REGRA PARA VALIDADE DEDUTIVA:


Um argumento é VÁLIDO se, e somente se,  
toda circunstância que torna suas
premissas verdadeiras,  
também torna verdadeira a sua conclusão.

Isto é:
(Um argumento VÁLIDO é aquele em que é impossível conceber uma circunstânciaem que todas premissas são verdadeiras e a conclusão falsa)

(As regras para avaliação da força indutiva se dá em cada um dos tipos de argumentos indutivos, vejamos)

Generalizações:
conclusão mais geral que as premissas;
os resultados partem de dados de amostras e a elas se atendo;

Critérios:
(1) a amostra deve ser representativa;
(2) deve ser suficientemente grande;
(3) deve ser bem estudada;

Falácias relacionadas:
- Falácias da Explicação (Downes, p. 20-24)
- Generalização apressada (idem, p. 10)
- Amostra não representativa (idem, p. 10)
- Omissão de dados (idem, p. 11)

REGRA um argumento. DEDUTIVO CORRETO: 

Um argumento CORRETO é um argumento válido que tem premissas 
Verdadeiras


Previsões:
parte de generalizações;
conclusão e premissas particulares;
são indutivamente mais fracas que a generalização;

Falácia relacionada:
- Indução preguiçosa (idem, p. 11)

Como PROVA, pergunte: 

           (1)    É impossível as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa? 
è Se sim, é VÁLIDO.
(2)    Todas as premissas são verdadeiras? 
è Se sim, é CORRETO.

Argumentos Estatísticos:
validade indutiva da conclusão estabelecida matematicamente, sobre estatística;
não apela ao Princípio da Uniformidade da Natureza;

Falácia relacionada:
- Omissão de dados (idem, p. 11);
- Amostra limitada (idem, p. 10).
CONTRA-ARGUMENTAÇÃO:
(A)
(I) Argumento inválido:
mostre que é possível premissas serem
verdadeiras e a conclusão falsa;

(II) Argumento válido:
rejeitar uma das premissas.


Argumentos Humeanos:
Adere ao Princ. da Uniform. da Nat., ainda que possa aparecer nas premissas dados estatísticos ou porcentuais.

Falácias relacionadas:
- Falácias causais (idem, p. 13).


CONTRA-ARGUMENTAÇÃO:
 (B)
(IV) Se seu argumento for válido
mas incorreto:
troque a conclusão por uma que seja consequência lógica das premissas;

(v) Se seu argumento for inválido e com conclusão verdadeira:
→ troque tudo! Forma lógica, premissas verdadeiras e conclusão, se for o caso.

Argumento por Analogia:
Forma:
x tem as propriedades F1, F2, F3, F4
y, tal como x, tem as propriedades F1, F2, F3, F4
y tem ainda a propriedade G
Logo, x tem também a propriedade G.
Critérios:
(1)    As semelhanças são relevantes para a conclusão?
(2)    Apesar de existirem semelhanças,
existem diferenças comprometedoras?

Falácias relacionadas:
- Falsa analogia (idem, p. 10);
- Falácias Indutivas (idem, p. 9).




Casos de falsas argumentações (falácias)
com estruturas formais e que eralmente
correspondem à dedução são as
Falácias com Regras Gerais (Cf. idem, p. 12).
Argumento de Autoridade:
Forma:
X afirma que P
Logo, P.
Critérios:
(1)    A autoridade invocada é reconhecida como tal por seus pares?
(2)    Há divergências entre os especialistas sobre o assunto?

Falácias relacionadas:
- Apelo à autoridade (idem, p. 8);
- Autoridade anônima (idem, p. 8);
- Estilo sem substância (idem, p. 9).
Como não há muitos exemplares de tais argumentos na vida ou na ciência, ocupam um lugar de “ideal de certeza” a alcançar;
É um programa mais desenvolvido na lógica;
É de certeza mais definida e fácil de precisar.
Contam com menor número de estudos, dado seu caráter problemático;
Estudo menos sofisticado do que a dedutiva;
É mais difícil precisar a % exatamente.

BIBLIOGRAFIA:
COPI, Irving. Introdução à Lógica. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1974.
MARGUITTI, Paulo R. Introdução à lógica simbólica. Belo Horizonte: Ed.UFMG, 2001.
Mortari, César A. Introdução à Lógica. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
(Apostila de lógica FIL200).

                                                                                                                  Wesley Leonel, OP, abril 2012.

Link para ATIVIDADE REVISÃO para prova de lógica

http://www.sendspace.com/file/zqg217


http://www.4shared.com/office/GQLTAXnc/Atividade_para_prova_de_lgica.html

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A tese céptica de Hume acerca da indução

Elliott Sober
Universidade de Wisconsin (créditos de criticanarede.com)
A todo o momento formas expectativas acerca de como será o futuro ou sobre que generalizações (afirmações com a forma "Todos os As são B") são verdadeiras com base em dados que não são dedutivamente conclusivos. As tuas crenças acerca do futuro baseiam-se na percepção e na memória, mas não podes deduzir como será o futuro de premissas que descrevem o presente e o passado.
Concentremo-nos num exemplo para tornar claro o que acabou de ser dito. Supõe que observaste muitas esmeraldas e descobriste que cada uma delas era verde. De seguida prevês que "A próxima esmeralda que eu observar será verde"; ou talvez generalizes e digas "Todas as esmeraldas são verdes." (Para que este seja um exemplo do género que queremos, supõe que as esmeraldas não são verdes por definição.)
O senso comum diz que és racional se, ao acreditares em previsões e generalizações, tens muitos dados para o fazer. Observar muitas esmeraldas e descobrir que cada uma é verde parece justificar a tua expectativa de que a próxima esmeralda que examinares será verde. Mas não podes deduzir generalizações e previsões das tuas observações do passado. Além disso, repara que os dois argumentos seguintes são sensatamente não dedutivos:
(GEN)
Observei numerosas esmeraldas e cada uma delas é verde.
Logo, todas as esmeraldas são verdes.

(PRE)
Observei numerosas esmeraldas e cada uma delas é verde.
Logo, a próxima esmeralda que eu observar será verde.
A dupla linha entre as premissas e a conclusão indica que os argumentos não são dedutivamente válidos.
Em ambos os argumentos pensas que as premissas justificam racionalmente a conclusão. Defendes não ser mero preconceito afirmar que em cada caso as premissas fornecem bons dados a favor da verdade da conclusão. A tese de Hume é que a tua convicção não pode ser racionalmente defendida.
O que é importante perceberes é que Hume não está simplesmente a dizer que os argumentos não são dedutivamente válidos. Isso é óbvio. O que ele diz realmente é que as premissas não justificam racionalmente as conclusões. Para Hume não há qualquer maneira de justificar racionalmente previsões e generalizações.
Na perspectiva de Hume tens simplesmente o hábito de achar que aquelas premissas fornecem boas razões para acreditar naquelas conclusões. É um hábito que não podes abandonar; faz parte da natureza humana esperar que o futuro se assemelhe ao passado. Mas é um hábito que não podes defender racionalmente. Se um céptico te desafiar para justificares racionalmente o padrão de pensamento em questão, apenas podes dizer que essa é de facto a maneira de proceder dos seres humanos. Não tens como produzir um bom argumento para justificar racionalmente este hábito mental.

A indução não pode ser racionalmente defendida

O argumento de Hume

Como chegou Hume a esta conclusão surpreendente acerca da indução? Hume pensava que os argumentos enunciados (GEN e PRE) requerem uma premissa adicional. Tal como se encontram, a premissa não suporta a conclusão. Ora, se a observação tem a intenção de sustentar a generalização ou a previsão, então terás de pressupor que o futuro se assemelha ao passado. A este pressuposto Hume chamou Princípio da Uniformidade da Natureza (PUN).
Hume pensava que este princípio desempenha um papel indispensável em todo e qualquer argumento indutivo. Já viste o exemplo a respeito da cor das esmeraldas. Considera agora a crença de que o sol nascerá amanhã. Esta crença previsiva baseia-se na premissa de que o sol nasceu em cada um dos dias em que, com enfado, te deste ao trabalho de fazer uma observação. Por que razão estas observações do passado sustentam a previsão que fizeste acerca de amanhã? Hume pensava que tens de supôr que a natureza é uniforme — o futuro será semelhante ao passado. Hume diz que sem este princípio o passado não pode ser um guia para o futuro.
Assim, todo e qualquer argumento indutivo pressupõe PUN: terás de pressupor PUN para que a premissa observacional possa sustentar a previsão ou generalização afirmada na conclusão do argumento. Isto significa que, se a conclusão a que chegas é racionalmente defensável, então deverás ter disponível um bom argumento para pensar que PUN é verdadeiro. Se PUN não puder ser defendido, então qualquer crença que dependa de pressupor que PUN é verdadeiro, terá também que ser indefensável.
É este o enunciado do argumento céptico de Hume:
  1. Todo o argumento indutivo requer PUN como premissa.
  2. Se a conclusão de um argumento indutivo é racionalmente justificada pelas premissas, então estas premissas têm de ser também racionalmente justificáveis.
  3. Assim, se a conclusão de um argumento indutivo é justificada, terá que haver uma justificação racional de PUN.
  4. Se PUN é racionalmente justificável, então terá que haver um bom argumento indutivo ou um bom argumento dedutivo a favor de PUN.
  5. Não há um bom argumento indutivo para PUN, uma vez que qualquer argumento indutivo a favor de PUN é circular.
  6. Não há um bom argumento dedutivo a favor de PUN, uma vez que PUN não é uma verdade a priori nem segue dedutivamente das observações que até hoje fizeste.
  7. Assim, PUN não é racionalmente justificável.
Logo, não há justificação racional para as crenças que tens com a forma de previsões ou generalizações.
Resumindo, o que Hume diz é que as crenças que tens acerca da cor das esmeraldas e do nascer do sol amanhã (e muitas outras crenças) não são racionalmente justificáveis porque repousam num pressuposto que não pode ser racionalmente justificado.

Por que razão PUN não pode ser justificado?

Examina melhor os passos 4-6 do argumento. Vê bem o que PUN afirma; PUN diz que o futuro será semelhante ao passado — as uniformidades do passado continuarão a subsistir no futuro. Será que podes saber que isto é verdadeiro com base na indução? Se puderes, o argumento indutivo parecer-se-á com este:
A natureza tem sido uniforme nas minhas observações do passado.
Logo, a natureza em geral é uniforme.
Lembra-te que para Hume todos os argumentos indutivos requerem PUN como premissa. O argumento enunciado é indutivo. Mas se introduzires PUN como premissa, como Hume requer, o argumento torna-se circular — pressupõe como premissa precisamente a proposição que tenta sustentar como conclusão.
E resultará uma justificação dedutiva de PUN? Também aqui a resposta de Hume é não. O argumento enunciado não é dedutivamente válido; o princípio geral da uniformidade não pode ser deduzido das observações que fizeste no passado.
Hume considera, e rejeita, um outro tipo de argumento dedutivo. Pode ser PUN uma verdade conceptual dedutível das definições dos seus termos? Se PUN fosse uma verdade conceptual teria a mesma espécie de justificação a priori que "Nenhum solteiro é casado" possui. Hume rejeita esta ideia dizendo que não há contradição em supor que o universo deixe subitamente de ser uniforme. Não é uma verdade conceptual afirmar que as regularidades do passado subsistirão no futuro.

Elliott Sober
Tradução de Faustino Vaz
Retirado do livro Core Questions in Philosophy, de Elliott Sober (Prentice Hall, 2008)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Indução e o Princípio da Informação Total*

O argumento indutivo consiste em inferir das propriedades de uma amostra para as propriedades de um elemento (não pertencente à amostra) ou para as propriedades da população como um todo. Todo o raciocínio indutivo depende da semelhança entre a amostra e a população. Como se sabe, num argumento indutivo, a conclusão sempre avança mais informação do que aquelas dadas na premissa. Por isso, quanto maior for a semelhança entre a amostra e a população como um todo, maior fiabilidade  terá  a  inferência  indutiva.  Por outro lado, se a amostra tiver diferenças relevantes face à população, então a inferência indutiva não será fiável. 
A exigência de que toda a informação relevante e disponível seja incluída num argumento indutivo, é chamada "princípio da informação total". Por isso é que dados importantes, que arruinariam ou fortaleceriam um argumento indutivo, não podem ser excluídos (a exclusão das informações resulta em falácias indutivas). A informação da conclusão será fiável se a informação nela contida é suficientemente sustentada pelo conteúdo informativo das premissas, que devem fornecer todo conteúdo informativo necessário para uma inferência válida.

Exemplos:
(1)    Uma pesquisa de intenção eleitoral feita com os moradores da Barra apontou que
      75% dos moradores demonstrou intenção de votos para o pré-candidato X.
      Portanto, o candidato X vencerá as eleições municipais em Ouro Preto.

(2)    Uma pesquisa de intenção eleitoral realizada pela agência TZ entre janeiro e abril de 2012, 
            feita em diversos bairros e distritos de Ouro Preto, 
            aponta que 75% dos eleitores consultados demonstraram intenção de votos para o candidato X.
      Portanto, o candidato X provavelmente vencerá as eleições municipais em Ouro Preto.

Mesmo que as premissas de um raciocínio indutivo sejam verdadeiras, a conclusão pode ser falsa. Apesar disso, uma boa inferência indutiva nos dá uma boa razão para crer que a conclusão é verdadeira. E isso ocorre quando há informação suficiente para crer num argumento como indutivamente forte!                     (Ver também: força indutiva; validade dedutiva).

* O princípio da informação total vale também para argumentos dedutivos onde, se a conclusão deve decorrer necessariamente das premissas, aquela nunca deve avançar nem mais nem menos informações do que as premissas avançam. O caso do indução é que o conteúdo informativo da conclusão não deve estar em desencontro com o das premissas, que devem assegurar-nos que o argumento é indutivamente forte.

terça-feira, 27 de março de 2012

Enquanto isso... "O peru indutivista", Bertrand Russel


Certo dia, o peru estava entediado e resolveu começar a fazer análises sobre sua vida, percebeu que na segunda-feira às 9h00 da manhã era alimentado, então, seguiu-se até o outro dia e percebeu que na terça-feira também fora alimentado às 9h00 da manhã, o mesmo aconteceu na quarta, quinta, sexta-feira e inclusive nos finais de semana...

Como se não bastasse, e ele, sendo um bom indutivista, não tirou conclusões apressadas. O peru continuou suas observações durante muitos dias, esperou até recolher um grande  número de observações do fato de que era alimentado às 9 da manhã, e fez essas observações sob uma ampla variedade de circunstâncias de dias, clima, e a cada dia acrescentava uma outra proposição de observação à sua lista.

Percebera que todos os 364 dias do ano havia sido alimentado precisamente às 9h00 da manhã. O peru como um bom empirico-indutivista preveu, com presumível segurança:

"Hmm, certamente com base em minhas observações serei alimentado todos os dias às 9h00 da manhã."

Chegado o dia 24 de dezembro, o peru fora abatido, afinal era Natal...

Capítulo 6 - "Sobre a indução", de Bertrand Russel

Reproduzo na íntegra o texto de Russel sobre o problema da indução - tema importante para a lógica e ciência (e, portanto, importante para nossos estudos). Leitura coplementar, embora VALIOSA! Vale a pena ler também o textículo sagaz e ilustrativo "O peru indutivista", também de Russel, clicando aqui. Enjoy it!


Capítulo 6

Sobre a indução[1]

 

Em quase toda a nossa discussão anterior nos preocupamos com a tentativa de lançar luz sobre nossos dados no processo do conhecimento da existência. Que coisas existem no universo cuja existência nos é conhecida porque temos um conhecimento direto delas? Até aqui nossa resposta foi que temos um conhecimento direto dos nossos dados dos sentidos, e, provavelmente, de nós mesmos. Sabemos que isso existe. E os dados dos sentidos passados que recordamos, sabemos que existiram no passado. Este é o conhecimento que nossos dados nos proporcionam.

            Mas se quisermos fazer inferências destes dados – se quisermos conhecer a existência da matéria, de outras pessoas, do passado anterior ao começo de nossa memória individual, ou do futuro, devemos conhecer princípios gerais de algum gênero por meio dos quais possamos fazer tais inferências. Devemos saber que a existência de uma espécie de coisa, A, é um sinal da existência de uma outra espécie de coisa, B, seja ao mesmo tempo que A, seja em algum tempo anterior ou posterior, como, por exemplo, o trovão é um sinal da existência anterior do relâmpago. Se acaso não conhecêssemos isso, nunca poderíamos ampliar nosso conhecimento para além da esfera de nossa experiência privada; e esta esfera, como temos visto, é sumamente limitada. A questão que temos de considerar agora é se esta ampliação é possível, e em caso afirmativo, como se realiza.

            Tomemos como exemplo uma questão sobre a qual nenhum de nós tem, de fato, a menor dúvida. Todos nós temos a convicção de que o sol nascerá amanhã. Por quê? É esta crença simplesmente o resultado cego da experiência passada, ou pode ser justificada como uma crença razoável? Não é fácil descobrir uma prova por meio da qual possamos julgar se uma crença deste tipo é razoável ou não, mas podemos pelo menos determinar que classe de crenças gerais seriam suficientes, se fossem verdadeiras, para justificar o juízo de que o sol nascerá amanhã, e muitos outros juízos similares sobre os quais se baseiam nossas ações.

            É evidente que se nos perguntarem por que acreditamos que o sol nascerá amanhã, naturalmente responderemos: “porque tem invariavelmente nascido todos os dias”. Temos uma crença firme de que ele nascerá no futuro porque tem nascido no passado. Se nos interrogarem sobre os motivos por que acreditamos que ele continuará a nascer como tem nascido até aqui, podemos apelar para as leis do movimento: a Terra, podemos dizer, é um corpo que gira livremente, e este corpo não deixa de girar a menos que alguma coisa interfira externamente, e não existe nada externamente que possa colidir com a Terra de hoje até amanhã. Evidentemente, poderíamos duvidar de que estejamos completamente certos de que não existe nada externamente que possa interferir, mas esta não é a dúvida que interessa. A dúvida que interessa é em relação a se as leis do movimento continuarão atuando até amanhã. Se se levanta tal dúvida, nos encontraremos na mesma posição em que nos encontrávamos quando se levantou a dúvida sobre o nascimento do sol.

            A única razão para acreditar que as leis do movimento continuarão atuando é a de que elas têm atuado até aqui, na medida em que nosso conhecimento do passado nos permite julgar isso. É verdade que temos uma maior quantidade de evidências passadas a favor das leis do movimento do que a favor do nascimento do sol, porque o nascimento do sol não é mais que um caso particular do cumprimento das leis do movimento, e existem inúmeros outros casos particulares. Mas a verdadeira questão é esta: um número qualquer de casos em que se cumpriu uma lei no passado proporciona evidência de que se cumprirá o mesmo no futuro? Em caso negativo, é evidente que não temos base alguma para esperar que o sol nasça amanhã, nem para esperar que o pão que comermos em nossa próxima refeição não nos envenene, nem para nenhuma das outras expectativas apenas conscientes que regulam nossa vida cotidiana. Pode-se observar que todas estas expectativas são apenas prováveis; assim não temos que procurar uma prova de que elas devem ser cumpridas, mas apenas alguma razão a favor da opinião segundo a qual é provável que se cumpram.

            Assim sendo, para tratar esta questão devemos, inicialmente, fazer uma distinção importante, sem a qual logo nos envolveríamos em confusões insolúveis. A experiência nos tem mostrado que, até aqui, a freqüente repetição de uma série uniforme ou de uma coexistência tem sido a causa de esperarmos a mesma série ou coexistência na próxima ocasião. Um alimento de uma determinada aparência tem, geralmente, um determinado sabor, e constitui um duro golpe para nossas expectativas quando o aspecto habitual se acha associado a um gosto inusitado. Através do hábito associamos as coisas que vemos com determinadas sensações táteis que esperamos de seu contato; um dos traços terríveis dos fantasmas (nas muitas histórias de aparições) é que eles não nos propocionam quaisquer sensações táteis. As pessoas incultas que viajam ao exterior pela primeira vez ficam muito surpresas, a ponto de se tornarem incrédulas, quando descobrem que sua linguagem nativa não é compreendida.

            Este tipo de associação não se limita aos homens; nos animais também é muito forte. Um cavalo que foi conduzido com freqüência ao longo de um determinado caminho resiste a andar em outra direção. Os animais domésticos esperam seu alimento quando vêem a pessoa que geralmente os alimentam. Sabemos que todas estas grosseiras expectativas de uniformidade estão sujeitas ao erro. O homem que alimenta todos os dias o frango no final lhe torce o pescoço, demonstrando com isso que teriam sido mais úteis ao frango opiniões mais refinadas em relação à uniformidade da natureza.

            Mas apesar dos erros destas expectativas, não há dúvida que existem. O simples fato de que alguma coisa aconteceu várias vezes leva os animais e os homens a esperar que ela aconteça novamente. Assim, nossos instintos certamente nos levam a acreditar que o sol nascerá amanhã, mas é possível que não estejamos em melhor posição do que o frango que, inesperadamente, teve seu pescoço torcido. Portanto, devemos distinguir o fato de que as uniformidades do passado nos causam expectativas em relação ao futuro, do problema de saber se existe algum motivo razoável para atribuir valor a tais expectativas deste o momento em que se suscita o problema de sua validade.

            O problema que devemos analisar agora é o de se existe alguma razão para acreditar no que se tem denominado “a uniformidade da natureza”. A crença na uniformidade da natureza é a crença de que tudo o que ocorreu ou ocorrerá é uma instância de alguma lei geral que não tem exceção alguma. As grosseiras expectativas que foram mencionadas estão todas sujeitas a exceções, e suscetíveis, portanto, de frustrar aqueles que as mantém. Mas a ciência habitualmente pressupõe, pelo menos como uma hipótese de trabalho, que as leis gerais que têm exceções podem ser substituídas por leis gerais que não têm exceções. “Corpos sem apoio no ar caem”, eis uma lei geral à qual os balões e os aviões representam exceções. Mas as leis do movimento e a lei da gravitação, que explicam a queda da maioria dos corpos, também explicam porque os balões e os aviões podem subir; assim, as leis do movimento e a lei da gravitação não estão sujeitas a estas exceções.

            A crença de que o sol nascerá amanhã poderia ser falsificada se a Terra entrasse de repente em contato com um corpo muito grande que destruísse sua rotação; mas as leis do movimento e a lei da gravitação não seriam violadas por este acontecimento. O objetivo da ciência é descobrir uniformidades, tais como as leis do movimento e a lei da gravitação, de tal modo que, por mais que ampliemos nossas experiências, não sofram exceções. Nesta busca a ciência logrou um êxito evidente, e podemos admitir que suas uniformidades têm se mantido até aqui. Mas com isso retornamos à questão anterior: admitindo que elas têm sempre se mantido no passado, temos alguma razão para supor que se manterão no futuro?

            Já se argumentou que temos motivos para esperar que o futuro se assemelhará ao passado, porque o que era futuro converteu-se constantemente em passado e sempre se assemelhou ao passado, de tal modo que, na realidade, temos a experiência do futuro, ou seja, do tempo que anteriormente era futuro e que podemos denominar de futuro do passado. Mas este argumento, todavia, encerra uma petição de princípio. Temos experiência dos futuros do passado, mas não dos futuros do futuro, e o problema é este: os futuros do futuro se assemelharão aos futuros do passado? Este problema não pode ser respondido por um argumento que se apóie apenas nos futuros do passado. Portanto, temos ainda que buscar um princípio que nos permita saber se o futuro seguirá as mesmas leis do passado.

            A referência ao futuro não é essencial a este problema. O mesmo problema surge quando aplicamos as leis vigentes em nossa experiência a coisas passadas das quais não temos experiência alguma – como, por exemplo, em geologia, ou nas teorias sobre a origem do Sistema solar. A pergunta que realmente temos de fazer é esta: “Quando encontramos duas coisas frequentemente associadas, e não conhecemos nenhum caso em que uma ocorreu sem que a outra também ocorresse, a ocorrência de uma das duas, num novo caso, nos dá algum fundamento suficiente para esperar a outra?” De nossa resposta a esta pergunta dependerá a validade de todas as nossas expectativas em relação ao futuro, de todos os resultados obtidos pela indução, e, na realidade, de praticamente todas as crenças nas quais se baseia nossa vida cotidiana.

            Devemos conceder, inicialmente, que o fato de que duas coisas tenham sido encontradas frequentemente juntas e nunca separadas não é suficiente, por si mesmo, para provar de uma forma demonstrativa que serão encontradas juntas no próximo caso que examinarmos. O máximo que podemos esperar é que, quanto maior for a freqüência com que tenham sido encontradas juntas, mais provável será que se achem unidas em outra ocasião, e que, se elas foram encontradas juntas com muita freqüência, a probabilidade chegará quase à certeza. Nunca podemos atingir completamente a certeza quanto a isso, pois sabemos que, apesar das repetições freqüentes, no final às vezes nos decepcionamos, como no caso do frango, cujo pescoço é torcido. Assim, a probabilidade é tudo o que podemos pretender.

            Poder-se-ia argumentar, contra a opinião que estamos defendendo, que todos os fenômenos naturais estão sujeitos a um regime de leis, e que, às vezes, na base de nossas observações, podemos constatar que é possível que somente uma lei talvez convenha aos fatos em questão. Podemos responder a esta opinião de duas maneiras. A primeira é que, ainda que alguma lei que não tenha exceções se aplique ao nosso caso, na prática nunca podemos estar seguros de que descobrimos esta lei e não uma lei que sofra exceções. A segunda é que o próprio regime das leis parece ser ele mesmo apenas provável, e que nossa crença de que se manterá no futuro, ou nos casos do passado que não examinamos, baseia-se ela mesma no princípio que estamos examinando.

            O princípio que estamos examinando pode ser denominado de princípio da indução, e suas duas partes podem ser formuladas da seguinte maneira:

            (a) Quando uma coisa de uma determinada espécie A se achou associada com uma outra coisa da espécie B, e nunca foi encontrada dissociada de uma coisa da espécie B, quanto maior for o número de casos em que A e B tenham sido encontrados associados, maior será a probabilidade de que se encontrem associados num novo caso no qual sabemos que um deles está presente;

            (b) Nas mesmas circunstâncias, um número suficiente de casos de associação converterá a probabilidade de uma nova associação quase numa certeza, aproximando-a desta indefinidamente.

            Assim formulado, o princípio se aplica somente à verificação de nossa expectativa em um novo caso particular. No entanto, desejamos também saber se existe uma probabilidade a favor da lei geral segundo a qual as coisas da espécie A estão sempre associadas com coisas da espécie B, desde que um número suficiente de casos de associação seja conhecido, e que nenhum caso de falta de associação seja conhecido. A probabilidade da lei geral é, obviamente, menor que a probabilidade do caso particular, pois se a lei geral é verdadeira, o caso particular também deve ser verdadeiro, ao passo que o caso particular pode ser verdadeiro sem que a lei geral seja verdadeira. Não obstante, a probabilidade da lei geral aumenta com as repetições, assim como a probabilidade dos casos particulares. Podemos repetir, pois, as duas partes de nosso princípio em relação à lei geral, da seguinte forma:

            (a) Quanto maior for o número de casos nos quais determinada coisa da espécie A se associou a uma coisa da espécie B, (se não conhecemos nenhum caso em que haja faltado a associação) o mais provável será que A se achará sempre associado com B;

            (b) Nas mesmas circunstâncias, um número suficiente de casos de associação de A com B tornará quase certo que A se acha sempre associado com B, e esta lei geral se aproximará indefinidamente da certeza.

            Deve-se notar que a probabilidade é sempre relativa a certos dados. Em nosso caso, os dados são simplesmente os casos conhecidos de coexistência de A e B. Pode haver outros dados, os quais poderiam ser tomados em consideração, o que alteraria gravemente a probabilidade. Por exemplo, um homem que tivesse visto um grande número de cisnes brancos poderia argumentar, segundo nosso princípio, que de acordo com os dados é provável que todos os cisnes sejam brancos, e este seria um argumento perfeitamente correto. Este argumento não é refutado pelo fato de que alguns cisnes sejam negros, porque uma coisa pode muito bem ocorrer apesar do fato de que alguns dados a tornem improvável. No caso dos cisnes, um homem poderia saber que em muitas espécies de animais a cor é uma característica que varia muito e que, portanto, uma indução em relação à cor está particularmente sujeita ao erro. Mas este conhecimento seria um dado novo, que de modo algum provaria que a probabilidade relativa a nossos dados anteriores tinha sido estimada de forma errada. Portanto, o fato de que as coisas frequentemente deixam de confirmar nossas expectativas não é evidência de que estas não sejam provavelmente cumpridas num caso determinado ou numa determinada classe de casos. Assim, nosso princípio indutivo não é pelo menos suscetível de ser refutado apelando simplesmente à experiência.
            O princípio indutivo, contudo, é igualmente insuscetível de ser provado recorrendo à experiência. É possível que a experiência confirme o princípio indutivo em relação a casos que já tenham sido examinados; mas em relação a casos não examinados, só o princípio indutivo pode justificar uma inferência a partir daquilo que foi examinado para o que não foi examinado. Todos os argumentos que, na base da experiência, se referem ao futuro ou a partes não experimentadas do passado ou do presente, pressupõem o princípio indutivo; de tal modo que nunca podemos recorrer à experiência para provar o princípio indutivo sem incorrer em uma petição de princípio. Assim, devemos aceitar o princípio indutivo em razão de sua evidência intrínseca ou renunciar a toda justificação de nossas expectativas em relação ao futuro. Se o princípio não é sólido, não temos razão para esperar que o sol nasça amanhã, para esperar que o pão seja mais nutritivo do que uma pedra, ou para esperar que se nos lançarmos do telhado cairemos. Quando avistarmos alguém que consideramos como nosso melhor amigo se aproximando de nós, não teremos nenhuma razão para não supor que seu corpo não esteja habitado pela mente de nosso pior inimigo ou de alguém totalmente estranho. Toda nossa conduta se baseia em associações que têm funcionado no passado, e que, portanto, consideramos que provavelmente continuarão funcionando no futuro; a validade desta probabilidade depende do princípio indutivo.
            Os princípios gerais da ciência, como a crença num regime de leis, e a crença de que todo acontecimento deve ter uma causa, também dependem inteiramente, como as crenças da vida cotidiana, do princípio indutivo. Acreditamos em todos estes princípios gerais porque os homens tem encontrado inúmeros exemplos de sua verdade e nenhum exemplo de sua falsidade. Mas isso não oferece qualquer evidência de que serão verdadeiros no futuro, a menos que se admita o princípio indutivo.
            Assim, todo o conhecimento que, na base da experiência, nos diz alguma coisa sobre o que não experimentamos, baseia-se em uma crença que a experiência não pode confirmar nem refutar, mas que, pelo menos em suas aplicações mais concretas, parece estar tão firmemente enraizada em nós como muitos fatos da experiência. A existência e a justificação destas crenças – pois o princípio indutivo, como veremos, não é o único exemplo – suscitam alguns dos problemas mais difíceis e mais debatidos da filosofia. No próximo capítulo consideraremos brevemente o que podemos dizer para explicar este tipo de conhecimento, qual é seu alcance e seu grau de certeza.


[1] Bertrand Russell. Os problemas da filosofia. Trad. Jaimir Conte. Florianópolis: 2005.